Jorge Lancinha Astrologia Psicologica

30 Agosto 2012

 

 

Virgem: a Matéria Perfeita

Pastora, Jean-François Millet, 1860

 

Quando penso no signo de Virgem as imagens que se formam no meu pensamento transportam-me para o ambiente bucólico das pinturas de Millet: os pastores e os respigadores, humildemente laborando em paisagens de pós colheita.

Finda a ceifa é necessário separar o trigo do joio, moer os grãos para produzir a farinha, amassar e depois cozer, para finalmente obter o pão. Estes processos alquímicos, que permitem transformar a abundância natural num produto que podemos consumir e armazenar, são dádiva de Virgem.

Este é o terceiro signo de Terra na sequência de modos (cardinal, fixo, mutável), e a sua função está associada à capacidade de análise, selecção e refinamento da matéria. Com Capricórnio planeamos, lançamos as fundações e construímos macro-estruturas de sustentação, que depois em Touro procuramos consolidar e fazer perdurar, focando-nos na produtividade e na abundância, para então, com Virgem, trabalharmos no sentido da eficiência e da utilidade. Assim, é na atenção ao pequeno detalhe, na criteriosa inventariação da realidade concreta que vamos encontrar a Virgem. A técnica e o método são o produto do esforço virginiano em dominar a manifestação material, rumo à perfeição.

Em Leão descobrimos o esplendoroso fulgor do Eu, em Virgem aprendemos a humildade do serviço, preenchendo o nosso apelo de individualidade na medida em que nos sentimos úteis e capazes. Após a inspiração que infunde em nós a vontade de nos exprimirmos livremente, espontaneamente, dramaticamente, apaixonadamente - características do signo anterior de Leão - eis que surge o momento do confronto com a necessidade de apurar, refinar, aperfeiçoar. Em Virgem trata-se de medir e avaliar resultados e sintetizar respostas com vista à sustentabilidade e eficácia da nossa acção.

Neste signo a mente casa-se com o corpo: a racionalidade e a materialidade entram em íntima relação. A preocupação com a saúde, a higiene e a alimentação assume bastante relevo, podendo inclusive originar somatizações, derivadas do stress em procurar manter o máximo controlo sobre o fluxo dos acontecimentos. Lembrando a canção de António Variações: “Quando a cabeça não tem juízo… o corpo é que paga!” (link para o vídeo no YouTube)

A regência de Virgem pertence a Mercúrio, criador da escrita e da numeração e pai do pensamento científico, que incide no conhecimento objectivo da realidade e na criação de tecnologias e métodos numa perspectiva de utilidade prática e de resolução de problemas. As qualidades inventivas e o engenho de Hermes / Mercúrio encontram a sua manifestação no signo de Virgem, que procura entender o funcionamento mecânico das coisas e encontrar um sentido lógico para os fenómenos.

Para evitar cair no cepticismo de uma existência meramente factual e materialista, será necessário integrar o arquétipo oposto de Peixes, aprendendo a fluir, a render a mente perante o que não se pode compreender racionalmente e a reconhecer a evidência e o valor da subjectividade, da realização poética, do carácter simbólico da existência, ligando-se à sua essência espiritual.

O signo de Virgem encerra em si um profundo significado esotérico: sendo o pólo oposto ao último signo do zodíaco, é nele que reside a chave última da transcendência. Virgem é o símbolo da perfeição na forma humana.

 

 

 

Jorge Lancinha

 

 

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